Ano 1, número 3 - Junho de 2003
Neste número:
 

DAS ORIGENS DO LICEU SALVADOR CORREIA
por Sousa Mora Cruz

Corria o ano de 1890, mês de Abril a 25 e Luanda já nessa altura, fervilhava de juventude inquieta, pois a escola não existia e os moços e moças, apesar dos tempos não serem iguais ao de hoje, reuniam-se às escondidas dos Kotas e planeavam escapatórias para o futuro comum. Alguns, cujos pais tinham mais dinheiro e influências, conseguiam arranjar quem por eles olhasse culturalmente. Mas o nível de cultura de alguns professores também deixava a desejar, e não fosse pelos lugares que ocupavam no governo, no exército ou na igreja, os alunos pouco aprendiam. Por isso, nesse dia 25 de Abril de 1890, depois de muitas discussões e desentendimentos, cerca de trinta pessoas da capital angolana, resolveram reunir-se em casa de Caetano Vieira Dias, o Kota de uma das famílias mais influentes de Luanda, para enviar um requerimento, solicitando ao então governador de Angola, da possibilidade de criação de um Liceu Nacional na capital, onde fossem ministrados os estudos correspondentes, o que se reputava de grande interesse, para a elevação do nível cultural Angolano. O requerimento foi entregue ao secretário do governador, dizendo da grande esperança de ter uma resposta rápida e positiva sobre o assunto em questão. A resposta nunca foi dada. Passaram-se 13 anos de lutas, requerimentos, manifestações e quejandos. Depois de anos de querelas verbais com o governo, foi publicada uma portaria, com a data de 7/4/1904 em que o governo salientava, que o estado da instrução pública em Angola, não correspondia à importância da população residente e indígena civilizada e ao crescente movimento de colonização europeia. Novo requerimento foi feito por insignes membros da capital angolana e enviado para Lisboa, mas o mesmo perdeu-se no emaranhado de papéis do Ministério. A luta prosseguiu e nada de novo se alcançou. Só em 22 de Fevereiro de 1919, foi publicada uma nova portaria, em que Angola soube que a proposta tinha sido aprovada e assim via nascer um liceu de que tanto precisavam. Liceu de Luanda, Liceu Central de Angola, e pouco depois Liceu Nacional de Salvador Correia.

O ano de 1919 marca a divisão de dois períodos distintos da história da cultura angolana. O que se fez antes não ultrapassara meras tentativas e experiências mal sucedidas.

A criação do Liceu Central, como era oficialmente designado, pouco depois chamado Liceu Salvador Correia, foi como o atingir de uma meta, a realização de um sonho.

Decorrido um mês sobre a data da sua fundação, foi aberto um crédito de oito contos, para custear as primeiras despesas feitas com a instalação e o funcionamento no primeiro semestre desse ano. Entretanto, chegou o mês de Maio, altura em que deveriam começar as aulas, e a sua abertura foi adiada, segundo pessoas da época, por motivos relacionados com o reconhecimento legal dos leccionados e a sua equivalência aos que eram ministrados em Portugal. Se foi essa a causa, ninguém sabia ao certo. O Liceu, depois deste compasso de espera, começou a funcionar em 15 de Setembro de 1919, num casarão que fora da companhia do Ambaca , e que servia ao mesmo tempo de residência para os seus directores, na Rua da Misericórdia. Em Outubro do mesmo ano foram mudadas as instalações para a Avenida Álvaro Ferreira, mais conhecida por Avenida do Hospital, onde se manteve até final dos anos 1941/42. As razões da mudança prenderam-se com o facto das instalações serem já pequenas para o número de alunos.

Por decreto de 30 de Janeiro de 1924, a que se deu o nome de "Diploma Legislativo Colonial n.º 5", foi aprovada a fundação do Liceu de Luanda, e deu-se-lhe como patrono Salvador Correia, ficando assim equiparado, para todos os efeitos, aos liceus metropolitanos.
Em 17 de julho de 1937, foi delegada ao Director dos Serviços de Fazenda, competência legal para adquirir um terreno e uma casa nele construída, situado na Avenida Brito Godins em Luanda, aos herdeiros de Fernando Pimentel, Ema de Sousa Cruz e Emilia Perez y Perez, para aí ser edificado o futuro Liceu. A localização do terreno era apropriada, ficava num planalto longe do comércio, com vista para o campo e para o mar. O anteprojecto, respectiva planta e caderno de encargos, foram elaborados pelo arquitecto José Costa e Silva. A sua construção foi adjudicada à firma Sociedade Técnica de Engenharia de Angola Lda.
As obras começaram em 15/11/1938.
A inauguração solene efectuar-se-ia em 05/07/1942.
As sociedades Angolana e Portuguesa, têm que agradecer hoje aos que lutaram determinadamente, para que este marco de cultura, se erguesse em favor da juventude dos dois países irmãos.
Foi um farol a rasgar as trevas da ignorância, e uma esperança a brilhar no espirito de gerações de jovens, artífices do seu futuro próximo.

Esta condensação relativa às origens do Liceu, contou com a ajuda do professor Martins dos Santos.

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